A história do Caso Escola Base tem início em março de 1994 quando duas mães desesperadas com a possibilidade de seus filhos estarem sendo vítimas de abuso sexual dentro da escolinha em que estudam vão ao 6º DP, no Cambuci, bairro da zona sul de São Paulo, prestar queixa contra os diretores da escola.
Segundo as mães os diretores da escola acompanhados de dois sócios levavam as crianças para o apartamento de um terceiro casal para promover orgias sexuais, fotografando e filmando as crianças durante o possível ato.
Após ser prestada a queixa na delegacia, o órgão responsável se incumbiu de fazer uma varredura na escola e no apartamento do casal citado pelas mães, não sendo encontrado nada que incriminasse os até então “acusados”, mesmo assim o delegado Edélcio Lemos, sem verificar a veracidade das denúncias e com base em laudos preliminares, divulgou as informações à imprensa. Insatisfeitas com o resultado da investigação as mães comunicam a Rede Globo de televisão, fato este que aumentou ainda mais a proliferação da notícia.
Mesmo não tendo sido encontrado nos locais da varredura nada que realmente provasse a veracidade do crime, todos os grandes veículos de informação aceitaram a denúncia como verdadeira e deram manchete sobre o caso. Notícias que resultaram na depredação e saque da escola e do apartamento, além do linchamento moral dos envolvidos.
O inquérito durou dois meses, tempo onde toda e qualquer denuncia feita (anônima ou não) era sumariamente aceita pelos jornalistas responsáveis pela cobertura dos mais diversos meios. No decorrer desse período foi sugerido até que existia o consumo de drogas durante as supostas orgias e a possibilidade de contágio com o vírus HIV em decorrência dos abusos. Alguns dos depoimentos que viraram matérias em jornais respeitados no Brasil e no mundo não constam sequer nesse inquérito.
O delegado Primante responsável pelo caso até então, após ganhar notoriedade e uma possível promoção pós repercussão do caso Escola base, foi afastado do caso, dando lugar a Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. Grande parte das noticias tendenciosas da mídia eram baseadas em informações anônimas. A partir de uma dessas denúncias, a casa do americano Richard Pedicini foi invadida pela polícia e ele foi detido por pedofilía.
Segundo o denuncista e para os “investigadores” da mídia este seria o “elemento” que estava faltando, o americano seria o contato internacional dos molestadores da escola para comercializar fotografias e filmagens das crianças. Dias depois Gérson de Carvalho desmentiu a ligação e absolveu o americano. O delegado também inocentou os outros seis acusados e o inquérito foi arquivado, pois não havia nenhum indício de que a denúncia tivesse fundamento.
Após o arquivamento do inquérito, os donos e funcionários da escola acusados de abusos deram início à batalha jurídica por indenizações. Além da empresa 'Folha da Manhã', outros órgãos de imprensa também foram condenados. A Rede Globo foi condenada a pagar cerca de 450 mil reais para cada acusado no Caso Escola Base.
O livro de Alex Ribeiro traz aos leitores e principalmente aos jornalistas e/ou estudantes de jornalismo questões cotidianas intimamente relacionadas à Ética Jornalística e a sua importância.
Carlos Crickmam faz uma observação importante sobre o livro dizendo que “O livro é sobre o caso da Escola Base, mas o fundamento de tudo é a responsabilidade da imprensa.” O primeiro meio que recebeu a notícia foi o Diário Popular, que não tendo certeza da veracidade dos fatos denunciados resolveu não se pronunciar. Hoje sabemos que foi uma boa atitude, pois de fato a notícia não era verdadeira, porém, se fosse? Estaria o jornal infringindo o Art. 1° do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros que diz: “O código de ética dos jornalistas brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange o seu direito de informar, de ser informado e de ter acesso a informação”.
E as empresas midiáticas que noticiaram a denúncia, infringiram também o código de ética. Em seu Art. 4° O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação. No caso da Escola Base, as noticias eram publicadas sem essa apuração. Mesmo que se ponham em questão as denuncias anônimas, pois também no código de ética se diz que “É direito do jornalista resguardar o sigilo da fonte”, mas interpreta-se que seja essa fonte confiável e a informação digna de credibilidade e autenticidade.
Constatado que todos os acusados eram inocentes, a grande vilã da história foi a imprensa. Os jornalistas responsáveis pela cobertura ausentaram-se da informação que consta no Código de Ética dos Jornalistas em seu Art. 8° onde fica dito que “O jornalista é responsável por toda informação que divulga (...)” acrescido por citação do Art. 11 que enfatiza que “O jornalista não pode divulgar informações: (...) – De caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em coberturas de crimes e acidentes.”
Somente dias depois do início da repercussão do caso, um dos casais envolvidos (Mara e Saulo) que fora posteriormente preso, pôde falar. Outra amostra de que na busca pelo furo de reportagem, pela transformação da notícia em espetáculo, os jornalistas esqueceram algo fundamental para um jornalismo confiável, presente também no Código de Ética em seu Art. 12 I – “(...) ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objetos de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas” e II- “Buscar provas que fundamentem as informações de interesse público.”
Com exceção da Folha de São Paulo, nenhuma rede de televisão, rádio ou impresso se retratou formalmente pelos erros cometidos nem procurou tocar no assunto. Fato que nos mostra que mesmo diante de tanta repercussão e tantas críticas, alguns meios e profissionais se negam a enxergar e tentar de alguma forma corrigir o erro, que neste caso, acabou transformando a vida de muitas pessoas. Mostrando-nos que a disseminação de informações inverídicas não pautadas na apuração dos fatos pode ocasionar na vida das pessoas envolvidas danos irreversíveis a sua reputação.
Que fim deu essas pessoas? As mães que espalharam esse absurdo? E as crianças, hoje adultos? O que será que pensam desse absurdo?
ResponderExcluirate hoje o que eles tinham direito ainda não receberam, e vivem na esperança de mudar de vida hoje o senhor shimada vive sozinho pois minha sogra faleceu, a tristesa é grande se encontra numa situacao critica, eu sou futura noiva do filho dele que ninguem sabe que ele existe e vive com muitas dificudades mais creio Deus tera uma história linda para nós... bjus
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